A criança entende o significado da morte? Como falar de algo tão sofrido? Ela irá conseguir entender? Essas são algumas das perguntas que os adultos fazem ao se depararem com a difícil missão de falar sobre a morte a uma criança.

Mesmo sendo um delicado, partimos do pressuposto que este também é assunto de criança, não podendo assim ser escondido. O conhecimento de tal fenômeno natural é muito importante para sua elaboração e entendimento das questões da vida.

O entendimento e a simbolização da morte se dão de acordo com a cronologia do tempo de vida de uma pessoa, ou seja, irá depender da idade e fase de desenvolvimento. Crianças de até cinco anos possivelmente não conseguem reconhecer a universalidade da morte, tão pouco sua irreversibilidade. Ela percebe a ausência como algo temporário, sendo muito comum perguntarem quando o ente falecido irá voltar, para onde ele foi, se ela pode ir também, como ele está e etc. Nesta idade, elas ainda não conseguem distinguir a morte do ser humano com as de seres inanimados, como de bonecas, por exemplo.

De cinco a dez anos, a criança já tem noção da irreversibilidade, ou seja, compreende que quando uma pessoa morre, ela não volta mais. Entende a imobilidade da morte, sabe que não se respira e não se levanta. Nesta fase, geralmente ela não pergunta mais se a pessoa que morreu vai acordar, porque sabe que não se trata de dormir. Também consegue distinguir o ser inanimado do animado entendendo que as pessoas, as plantas e os animais morrem porque tem vida.

A partir dos 11 anos, a criança já está na fase em que percebe a morte como algo natural da vida, o que não significa que não esteja sofrendo. Neste período geralmente elas falam pouco sobre o assunto, evitando levantar questionamentos.

Independente da idade é preciso que a criança tenha conhecimento da morte de um familiar próximo. A falta de informação tende a gerar sofrimento e esconder não vai ajudar em nada. No geral, as crianças têm mais facilidade de se familiarizar com o tema a partir de histórias infantis, vida de animais de estimação e plantas, sendo muito importante que isso tudo seja apresentado a ela por uma pessoa próxima e que mantenha um laço de afinidade e confiança.

Ao conversarmos sobre o assunto, não devemos utilizar analogias como: foi embora, papai do céu levou, viajou ou foi dormir, isso pode confundir ainda mais a criança, além de gerar interpretações erradas sobre a verdadeira situação. Devemos também evitar dizer que ela não deve chorar ou ficar triste diante da perda, é preciso acolher com carinho as expressões e manifestações naturais ocasionadas pela morte. Proporcionar um espaço para que ela possa perguntar e colocar suas emoções é extremamente positivo, levando em consideração sempre o desejo da criança, sem forçar nada.

Nágela G. Caires Sousa
Psicóloga graduada pela UEMG - Faculdade Estadual de Minas Gerais

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