Quando estamos no modo sobrevivência não conseguimos aproveitar a vida, pois estamos o tempo todo com medo da escassez, seja de dinheiro, de amor, saúde e de alegria, mas o que não percebemos é que quanto mais tentamos nos proteger, mais vivemos na escassez.


Normalmente ligamos a palavra escassez ao dinheiro e nem percebemos como esse comportamento abarca outras áreas da nossa vida, é como se uma coisa puxasse outra, e assim vamos construindo, ou melhor, desconstruindo um mundo de possibilidades.


Sem perceber deixamos de aproveitar vários momentos que poderiam ser felizes e leves, tornando-os pesados e difíceis, justamente por não nos permitirmos viver plenamente os momentos da vida. O medo da falta funciona como uma trava para muitos de nós, pois por algum motivo fechamos o coração na tentativa de não sentirmos dor, e seguirmos a vida acreditando que se retermos sentimentos estaremos mais seguros.


Muitas pessoas passam a vida juntando dinheiro com medo de passar necessidades, outras não expressam o que sentem, porque sentem medo de ficarem vulneráveis, e assim seguem na escassez de alegria, de divertimento e de paixões. Tudo é medido e calculado, a espontaneidade está travada, todo o resto vai sendo abafado dentro do peito.


Bancamos os durões, usamos toda a nossa racionalidade para justificar essa não vida, desenvolvemos argumentos repletos de razões calculadas, e seguimos a vida nesse script sem cor, sem aproveitarmos o tempo precioso que temos nesse mundo. Talvez você me diga que o pouco que aproveita é o suficiente, e é claro que pode ser verdadeiro, mas será que é mesmo? Será que não poderia aproveitar mais? Se permitir a experimentar o novo sem que para isso precise exagerar?


Tudo isso é muito profundo, encontramos as raízes desses comportamentos em experiências de muita dor e muita falta, normalmente na infância onde precisamos muito de proteção, afeto e comida. Quando não recebemos esses cuidados básicos não conseguimos sentir segurança, estamos sempre em alerta, desconfiando de tudo, com medo e arredios. A vida até então se mostrou dura, seca, pesada, não há espaço para ficar experimentando o novo, pois não conseguimos mais lidar com a dor, não queremos ficar repetindo momentos que causam frustrações.


Desta forma seguimos amortecidos, mortos-vivos em plena experiência terrena, mas imaginariamente seguros. Vemos a vida passando e não conseguimos nos destravar, sabemos que perdemos muito, mas não conseguimos parar, parece um vício na dor, não estabelecemos relações saudáveis e duradouras, vamos minando o caminho para assim já romper com qualquer possibilidade de dor futura.


Esses comportamentos só levam a mais segregação, quanto mais comportamentos evitamos, mais nós fechamos. Um abismo se abre em nosso entorno e seguimos sozinhos, presos na própria história e infelicidade, e acabamos levando junto as pessoas que nos amam e que permanecem ao nosso lado. Não tem como estabelecer uma conexão real a não se entrarmos na dor e aceitarmos abrir mão de nossos próprios sonhos e desejos.


Quem sabe amanhã quando o sol nascer novamente possamos respirar esse momento mágico e acordar para o que realmente a vida oferece de bom, em meio a tantas histórias difíceis e bagagens pesadas. Sacudir os espinhos que ficaram grudados em nossos corpos e encarar a luz que está ao seu redor, pois, acredite, a vida é linda e apesar de todos os obstáculos que encontramos no meio do caminho, há muita gente boa por aí, muitas experiências mágicas esperando por você. Mas você, meu amigo, precisa se permitir e saiba que isso é totalmente possível.



Créditos


https://emais.estadao.com.br/blogs/luciana-kotaka/o-desafio-de-ser-o-filho-mais-velho/

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